Eis o TOP 20 relativo ao mês de Março dos 184 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a manutenção da liderança e as onze novas entradas no topo do painel: seis em estreia absoluta no WMCE e cinco a subirem para os primeiros vinte lugares:
1º- MA YELA, Akli D (Argélia) - Because
mês passado: 1ºlugar
2º- QUEENS AND KINGS, Fanfare Ciocărlia (Roménia) - Asphalt Tango
estreia na tabela
3º- TAXIDOSCOPIO, Kristi Stassinopoulou (Grécia) - Heaven & Earth
mês passado: 23ºlugar
4 º- SACRED STONE, Vajas (Noruega) - Vaj
mês passado: 4ºlugar
5º- URBAN AFRICA CLUB, vários - Outhere
mês passado: 9ºlugar
6º- NA AFRIKI, Dobet Gnahoré (Costa do Marfim) - Contre Jour
mês passado: 12ºlugar
7º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 2ºlugar
8º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
mês passado: 3ºlugar
9º- MUSICA I CANTS SEFARDIS D'ORIENT I OCCIDENT, Aman Aman (Espanha) - Galileo
estreia na tabela
10º- PIRATA, Maria Bethânia (Brasil) - Discmedi
mês passado: 10ºlugar
11º- AMAN IMAN, Tinariwen (Mali) - Independiente
mês passado: 26ºlugar
12º- NINA STILLER, Nina Stiller (Polónia) - EMI
mês passado: 99ºlugar
13º- ROMANO HIP HOP, Gipsy.cz (República Checa) - Indies Records
mês passado: 83ºlugar
14º- SHA, Schildpatt vs Peeni Waali (Suiça) - Mensch Records
mês passado: 18ºlugar
15º- ASKUR, Kristian Blak & Yggdrasil (vários) - Tutl
estreia na tabela
16º- ALLES VERLOREN, Binder & Krieglstein (Áustria) - Essay Recordings
estreia na tabela
17º- MEXICAN SESSIONS, Up, Bustle & Out (Reino Unido) - Echobeach
estreia na tabela
18º- CLAVELL MORENET, La Troba Kung-Fu (Espanha) - Lactea
estreia na tabela
19º- ÄLVDALENS ELEKTRISKA, Lena Willemark (Suécia) - Amigo
mês passado: 22ºlugar
20º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 5ºlugar
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
Multipistas celebra primeiro aniversário

No próximo dia 18 de Março, o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO assinala o seu primeiro aniversário. Uma oportunidade não só para passar em revista as quatro dezenas de programas emitidos durante o ano de estreia e para fazer um balanço do trabalho realizado até agora, mas também para envolver a comunidade de forma mais aprofundada na esfera da world music.
Provando que, mais do que um formato de rádio, este é um programa com alma onde cada um pode fazer a diferença, será realizada em Castelo Branco, em data e local ainda a definir, uma noite temática onde se pretende reunir não só gente ligada ao universo da música do mundo, numa espécie de tertúlia alargada, mas também todas as pessoas que se queiram associar de forma livre ao primeiro encontro de âmbito musical promovido pelo MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO.
Todos os ouvintes habituais do programa, aficionados pela matéria ou simples curiosos que queriam participar de forma activa no acontecimento poderão fazê-lo, desde que manifestem essa intenção, explicando de forma clara e sucinta a sua proposta, a qual deverá ser enviada o mais rapidamente possível para o e-mail multipistas@portugalmail.pt. Convém referir, no entanto, que a aprovação da mesma dependerá sempre dos meios a que será possível recorrer e da logística disponível, bem como das condições técnicas do espaço onde a noite temática irá ter lugar.
Mas aqueles que não puderem ou quiserem colaborar desta forma, poderão em alternativa enviar, por exemplo, um testemunho pessoal, em texto ou ficheiro de áudio (preferencialmente em formato MP3, para facilitar o envio), para o mesmo endereço electrónico e até ao dia 3 de Março. Opiniões fundamentadas, críticas construtivas, sugestões programáticas ou crónicas literárias, entre outros, tudo será válido, desde que a temática seja respeitada. O objectivo é o de divulgar esse material no próprio evento e, eventualmente à posteriori, inseri-lo numa emissão especial do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO.
Bem-haja a todos e a todas. Até breve!
Jorge Costa
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
Emissão #37 - 17 Fevereiro 2007
A 37ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 17 de Fevereiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 21 de Fevereiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (10 e 14 de Março) nos horários atrás indicados.
"Billy's Birl", Paul Mounsey (Escócia) - folktrónica
O compositor e produtor escocês Paul Mounsey inaugura a emissão com o tema “Billy’s Birl”, extraído do álbum “City of Walls”, editado em 2003. Trabalho maioritariamente de originais e adaptações próprias, e um dos quatro que o músico lançou durante os 15 anos em que viveu no Brasil. Escutar uma música tradicional escocesa, particularmente cantada em gaélico, era sempre um martírio para Paul Mounsey, visto este não entender aquele idioma. No entanto, um dia o apelo dos sons do outro lado do Atlântico foi mais forte. Paul Mounsey acabaria então por fundir ritmos da pop e influências latinas do Brasil, seu país adoptivo, com os sons tradicionais da Escócia. O produtor pega então em amostras da música tradicional escocesa, brasileira e nativa americana, combinando-as com o som da guitarra, dos teclados, da gaita-de-foles e das flautas, e adicionando-lhes percussões do Japão e da América do Sul bem como sonoridades electrónicas. Ao lidar com um espectro tão vasto de sons, culturas e instrumentos, Paul Mounsey consegue criar um universo musical único e impressionante, a que se juntam ainda as vozes de Flora MacNeil, Mary Jane Lamond, Anna Murray, Mairi MacInnes e Oumayma El-Khalil. Ao longo da sua carreira, o compositor tem trabalhado sobretudo em publicidade e televisão, compondo para diversos realizadores e trabalhando lado a lado com músicos como Michael Nyman, Etta James, Chico Buarque, Jimmy Cliff, António Carlos Jobim ou o grupo de percussão baiano Olodum.
"The Sound of Sleat/The Fear/Dans Plinn", Capercaillie (Reino Unido) - celtic folk
As músicas do mundo prosseguem com os Capercaillie, uma presença já habitual no programa, que nos trazem agora o medley “The Sound of Sleat/The Fear/Dans Plinn”, extraído do álbum “Choice Language”. Um reel (o mais comum e rápido tipo de melodia celta), onde se destacam os loops modernos e tranquilizantes. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a sua própria avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.
"Tickelled", Kíla (Irlanda) - celtic music, world fusion
Os irlandeses Kíla apresentam-nos “Tickelled”, tema extraído do álbum “Mind The Gap”, editado em 1995. Um disco que vai para além dos ritmos tradicionais como o reel e a jig, e onde grande parte dos temas são composições próprias escritas em irlandês. A banda, criada em Dublin em 1987, ousou aventurar-se em novos territórios sem no entanto deixar de preservar o essencial da sua identidade e de homenagear os seus antepassados. Ao fundirem ritmos e melodias tradicionais irlandesas e do sul da Europa com sonoridades provenientes de outras paragens, os Kíla conquistaram um lugar próprio no panorama cultural anglo-saxónico, revigorando assim as tradições musicais do seu país e criando um som contemporâneo distinto onde o rock também tem lugar. Para o conseguirem, eles servem-se de um conjunto eclético de instrumentos, não muito para além dos habitualmente presentes na música celta – a gaita-de-foles, o violino, a guitarra, o bandolim, o bouzouki, a harmónica e a flauta –, mas também de outras referências que vão dos coros do Médio Oriente aos sons africanos. Uma espiral em que dão novas direcções e territórios a uma música ancestral, e no entanto enérgica, a qual parece vir não do passado mas antes de uma Irlanda imaginária. A combinação de ritmos e instrumentos étnicos como o bodhrán ou a darabuka, permitiu aos Kíla conquistarem muitos fãs fora da tradicional comunidade folk irlandesa.
"Niane Bagne Na", Kaouding Cissoko (Senegal) - kora music, mandingo
Segue-se o senegalês Kaouding Cissoko com “Niane Bagne Na”, tema extraído do seu único trabalho a solo, editado em 1999. Em “Kora Revolution”, o virtuoso da kora (espécie de harpa de 23 cordas da África Ocidental, cuja caixa de ressonância é uma cabaça) mistura este instrumento e a tradição mandingo com a sofisticada pop senegalesa de Baaba Maal e outros géneros africanos. Uma sonoridade que entretanto havia já sido cruzada com o flamenco por Toumani Diabaté, com o jazz pelo Kora Jazz Trio ou ainda com o rock pelas mãos de Ba Cissoko. O resultado é uma folk onde se evidenciam as harmonias vocais femininas e uma secção rítmica complexa construída a partir das sonoridades do djembe, da tama (tocado com um pau, o “tambor falante” deve o nome ao seu timbre variável), do sabar (tambor tradicional senegalês), do balafon (instrumento sul-africano, percussor do xilofone, cuja ressonância se deve a um conjunto de cabaças), da guitarra, da flauta ou do baixo. Falecido em 2003, vítima de tuberculose, Kaouding Cissoko pertencia a uma grande família de tocadores da kora. O seu estilo, marcadamente lírico, predominava sobre a técnica. Ele tocou muitas vezes com músicos como Salif Keita, Nusrat Fateh Ali Khan, Michael Brook, Mansour Seck ou Ernest Ranglim - estes dois últimos foram mesmo convidados especiais neste trabalho. Para além disso, foi membro dos Daande Lenol, a banda de Baba Maal, e um dos fundadores dos Afro-Celt Sound System.
"Akanamandl' Usathana", Nothembi (África do Sul) - ndebele, afropop
Avançamos agora até à África do Sul com o tema “Akanamandl' Usathana”, retirado do álbum do mesmo nome, editado em 2001. Conhecida mundialmente como a rainha da música ndebele, Peki Emelia Nothembi Mkhwebane é natural de Carolina, localidade situada em Mpumalanga, perto da Suazilândia. Nascida numa família de aficionados pela música e órfã desde os cinco anos, ela não foi à escola porque os seus avós tinham poucos recursos. Mas depressa a música colmatou essa falha na sua vida: a avó ensinou-a a tocar flauta, a irmã a tocar isikumero e o tio a tocar uma guitarra construída apenas com uma lata de óleo. O amor pela cultura do seu povo levou Nothembi a fundar o grupo Izelamani ZakoNomazlyana, que começou por tocar em casamentos e eventos culturais. Ela comprou então um teclado e uma guitarra para compor, acabando por gravar as suas próprias canções num gravador de cassetes. No entanto, o problema era encontrar uma editora que se interessasse pelo seu trabalho, visto que Nothembi não sabia nem ler nem escrever - razão pela qual assinava o seu nome apenas com um “x”. Dada a sua iliteracia, acabou por ser enganada pelas companhias discográficas, que se aproveitavam dela. Um problema do passado, porque entretanto Nothembi conseguiu alcançar o sucesso a nível mundial e pôde finalmente frequentar a escola. Esta verdadeira estrela de rock, que também já passou por Portugal, alimenta agora a esperança de concluir os seus estudos e de vir um dia a receber uma certificação na área da música.
"Rani M'Hayer", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno
Rachid Taha traz-nos “Rani M’Hayer” (Estou tão Atormentado), tema extraído do álbum “Diwan 2”, lançado em Outubro de 2006. Um regresso às origens, oito anos depois da primeira série, com arranjos e interpretações de temas magrebinos e árabes, numa homenagem às baladas e canções de músicos da sua infância como Blaoui Houari, estrela argelina da década de 1950, ou Mohamed Mazouni. São clássicos actualizados num álbum gravado em Londres, Paris e Cairo e de novo produzido por Steve Hillage, onde têm destaque instrumentos tradicionais como a gasba (espécie de flauta magrebina) ou o guellal (pequeno tambor). Rachid Taha nasceu na cidade costeira de Oran, na Argélia, mas emigrou muito cedo com a família para França. Alsácia e Vosges foram os primeiros destinos do músico hoje residente em Paris, cidade onde começou a sua carreira a solo. Em 1981, enquanto vivia em Lyon, Rachid Taha conheceu Mohammed e Moktar Amini. Foi então que os três, juntamente com Djamel Dif e Eric Vaquer, formaram a banda de rock “Carte de Séjour” (“autorização de residência”). Um nome nada inocente, que faz referência à crescente movimentação dos descendentes dos imigrantes argelinos, que na época começavam a reclamar por um maior espaço de intervenção na sociedade francesa. Popular e polémico, Rachid Taha mistura o rock urbano com a música tradicional do oriente, cantando em árabe. Nas suas influências destacam-se sobretudo o chaâbi e o raï, géneros que cruzou não só com sons africanos e europeus, mas também com o rock, o punk ou o techno. Rachid Taha não deixa ninguém indiferente, já que ao longo de mais de duas décadas se tem batido pela defesa da democracia e da tolerância e pela luta contra o racismo e todas as formas de exclusão, sem esquecer a guerra contra a pobreza, o medo e os fundamentalismos árabes.
"Salam", Akli D (Argélia) - chaâbi, mbalax, folk, blues, rock
Segue-se Akli D, que nos apresenta o tema “Salam”, extraído do seu segundo álbum “Ma Yela” (Se Houvesse), lançado no ano passado. Um trabalho rico em misturas étnicas, onde se fala de paz, fraternidade e amor. Se no primeiro disco o compositor argelino enfatizava as suas raízes culturais e reivindicações políticas, neste alarga o espectro musical, abrindo-se ao mundo. Poético, político e tradicional, Akli Dehlis combina o chaâbi do norte de África com as tradições folk da região rural de Kabylie, misturando-os com canções americanas de intervenção, com os blues do Mississippi ou com o mbalax, a moderna pop senegalesa. Akli D nasceu em Kerouan, pequena cidade da Cabília, região montanhosa do norte da Argélia. Ele é um amazigh, o povo pré-islâmico que durante séculos habitou a costa sul mediterrânica desde o Egipto ao Atlântico, e que foi alvo de repressão armada ao exigir o reconhecimento oficial das línguas berberes naquele país. Exilado em Paris a partir da década de 80, tornou-se um músico de rua e do metro, acabando por experimentar géneros musicais como os blues, o rock, o reggae ou a folk. Mais tarde, Akli D muda-se para São Francisco, chegando a viver algum tempo na Irlanda. Pelo meio, acompanhou o duo feminino El Djazira e formou o grupo Les Rebeuhs des Bois, o qual tocava nos cafés e clubes de Paris. Foi num destes espaços em que ocorriam encontros musicais espontâneos levados a cabo pelas comunidades árabes e africanas que Akli D conheceu Manu Chao, produtor deste seu último trabalho.
"Forma", Bajofondo Tango Club (Argentina/Uruguai) e Luciano Supervielle (França) - electro-tango
Despedimo-nos com o Bajofondo Tango Club e o álbum do mesmo nome, editado em 2003. A Argentina e o Uruguai estão separados pelo Rio de la Plata mas unidos pela melancolia e nostalgia do tango. Produtores, músicos e cantores dos dois países decidiram então juntar-se para misturar o tango com diversos estilos electrónicos, recuperando o espírito da música rioplatense entre as décadas de 30 e 60. O projecto, criado em 2001 pelos produtores Juan Campodónico e Gustavo Santaolalla, recorre ao trip hop, ao house, ao chill out ou ao drum & bass, ritmos electrónicos que acabaram por reinventar o tango, transformando-o num drama dançável. Dos Bajofondo Tango Club fazem ainda parte Martín Ferrés, Verónica Loza, Javier Casalla e Gabriel Casacuberta. À formação ao vivo juntam-se também Jorge Drexler, Juan Blas Caballero, Didi Gutman, Adrian Laies, Emilio Kauderer, Cristobal Repetto, Diego Vainer e Adriana Varela. Outro dos elementos deste grupo, o compositor, pianista e DJ francês Luciano Supervielle, que começou a sua carreira no Uruguay com o grupo de hip-hop Platano Macho, encerra então o programa com o tema “Forma”.
Jorge Costa
"Billy's Birl", Paul Mounsey (Escócia) - folktrónica

"The Sound of Sleat/The Fear/Dans Plinn", Capercaillie (Reino Unido) - celtic folk

"Tickelled", Kíla (Irlanda) - celtic music, world fusion

"Niane Bagne Na", Kaouding Cissoko (Senegal) - kora music, mandingo

"Akanamandl' Usathana", Nothembi (África do Sul) - ndebele, afropop

"Rani M'Hayer", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno

"Salam", Akli D (Argélia) - chaâbi, mbalax, folk, blues, rock

"Forma", Bajofondo Tango Club (Argentina/Uruguai) e Luciano Supervielle (França) - electro-tango

Jorge Costa
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domingo, 11 de fevereiro de 2007
Multipistas agora também na Beira TV

O MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO já chegou ao universo da televisão. A partir de agora, e sempre que possível, as entrevistas exclusivas ao programa de rádio e alguns temas gravados ao vivo passarão a ser disponibilizados também em suporte de vídeo no sítio da Beira TV, webtv regional inaugurada no passado mês de Janeiro.
Para poder visualizar os ficheiros, comprimidos para o formato mp4 e que poderão ser descarregados para o disco rígido, o utilizador deverá ter instalada no seu computador a versão mais recente da aplicação Quick Time.
sábado, 3 de fevereiro de 2007
Emissão #36 - 3 Fevereiro 2007
A 36ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 3 de Fevereiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 7 de Fevereiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (24 e 28 de Fevereiro) nos horários atrás indicados.
"Carolina (remix)", Taraf de Haïdouks (Roménia) e DJ Shantel (Alemanha) - gypsy brass band, gypsy oriental music
Os Taraf de Haïdouks a abrirem a emissão com “Carolina”, uma remistura de Stephan Hantel extraída da colectânea “Electric Gypsyland”, editada em 2005. Uma série de reinterpretações e de reinvenções poéticas de músicos europeus e americanos, em que o ponto de partida é a música cigana. Os Taraf de Haïdouks ("banda de bandidos") são originários de Clejani, cidade localizada a sudoeste de Bucareste, na Roménia. Esta dezena de instrumentistas e cantores, em que convivem quatro gerações de lăutari (músicos), foi descoberta em 1990 por dois jovens músicos belgas que se apaixonaram pela sua sonoridade e decidiram dá-los a conhecer ao mundo. A música dos Taraf de Haïdouks, que varia entre as baladas e as danças, é uma mistura de estilos locais, representando na perfeição a riqueza das folk romena. O género chamou a atenção de Stephan Hantel (mais conhecido por DJ Shantel), que nos últimos anos atacou as pistas de dança com uma mistura única de downtempo e technopop. Ele cria uma mistura explosiva entre a música dos Balcãs e a electrónica, dando destaque a alguns dos maiores representantes da música cigana como Mahala Rai Banda, Fanfare Ciocărlia, Balkan Beat Box, Slonovski Bal ou Goran Bregovic. As suas famosas raves em Frankfurt, chamadas de Bucovina Club, misturam sonoridades que vêm do Brasil e do Norte de África com baladas romanas, música tradicional da Moldávia ou da Sérvia e danças dos Balcãs. O resultado é uma amálgama sonora onde existe ainda lugar para a dub, o house, a breakbeat, a bossa nova, a batucada e a música oriental.
"Lau Anaiak", Alboka (Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com os Alboka e o tema “Lau Anaiak” (Os Quatro Irmãos), extraído do álbum do mesmo nome, lançado em 2004. Quarto trabalho do grupo que, para além das danças e melodias populares, retiradas dos cancioneiros bascos, integra temas instrumentais – então uma novidade na folk basca, mais habituada a trabalhos vocais – e novas canções, compostas por Allan Grifing e traduzidas para euskera pelo escritor basco Juan Garcia. O agora duo, formado pelo acordeonista Joxan Goikoetxea e pelo multi-instrumentista irlandês Alan Griffin (que há mais de vinte anos vive no País Basco), foi criado em 1994 juntamente com mais dois músicos daquela região autónoma espanhola: Txomin Artola e Josean Martín Zarko. Da sua história fazem também parte as vozes de Benito Lertxundi e Xabi San Sebastián, o violinista Juan Arriola e a cantora húngara Marta Sebestyén, que colaborou num dos álbuns do grupo. Um ensemble cujo objectivo é o de interpretar música tradicional exclusivamente de forma acústica, sua imagem de marca, e que foi buscar o nome à alboka, um aerofone pastoril basco, construído com dois chifres de vaca, e cuja sonoridade, parecida com a da gaita, se situa entre a sanfona e a bombarda francesa. Juntam-se-lhe o acordeão, o bouzuki, o bandolim, o ttun-ttun (tamboril basco, da família do saltério), a guitarra acústica, o violino, a harpa, a gaita, a flauta e as percussões. Uma ponte entre a música tradicional e a folk contemporânea, em que a energia basca se une à pureza irlandesa.
"Ritus Selenita", Joglars e Senglars (Espanha) - celtic folk
Os catalães Joglars e Senglars estreiam-se no programa com “Ritus Selenita”, tema retirado do álbum do mesmo nome, editado em 1998. Eles são um dos mais conhecidos grupos espanhóis da música celta contemporânea. A sua criatividade vai para além dos contornos do folclore, já que combinam melodias tradicionais com composições próprias e arranjos modernos. Algo patente no segundo disco dos Joglars e Senglars, onde temas galegos, catalães, bascos, irlandeses ou macedónios se fundem com sonoridades medievais, ritmos mediterrânicos e harmonias jazzísticas, elementos pouco habituais na folk. O grupo nasceu em 1992 em Santa Coloma de Gramenet (Barcelona). Quatro jovens músicos influenciados por géneros como o jazz, o rock ou a música clássica, começam então um trabalho pioneiro de investigação musical. Um projecto de mestiçagem e de reabilitação da folk, que no entanto não perde de vista as tradições. Para além das gaitas galegas e irlandesas, a banda, hoje formada por David Lafuente, Víctor Fernández e Miguel Ángel Vera e a que se juntam Tato Latorre, Rafa Martín e Michel Solves, recorre a elementos de percussão originais, bem como a instrumentos eléctricos como a guitarra ou o sintetizador.
"Poulo", Amadou & Mariam (Mali) - afropop blues
Segue-se a dupla Amadou & Mariam, que nos traz o tema “Poulo”, extraído do álbum “Wati” (Os Tempos, em bambara), editado em 2002. Um afropop blues, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências tão inesperadas como o cavaquinho português ou o violino de Bengala. Naquela que é a mais roqueira pop africana, não faltam as habituais alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Neste trabalho, Amadou & Mariam prestam homenagem à música tradicional maliana, ainda que embrulhada em sons ocidentais, tendo por convidados os franceses Mathieu Chedid, Jean-Philippe Rykiel, Sergent Garcia, o marroquino Hamid el Kasri e os malianos Cheick Tidiane Seck, Moriba Koïta e Boubacar Dambalé. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na vida e na carreira. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma através da qual recordam não só as suas raízes mandingo, mas também as teias invisíveis que ligam o Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.
"Ambasale", Gigi (Etiópia) - world fusion, afrofunk
Avançamos agora até à Etiópia com o tema “Ambasale”, extraído do álbum “Gold and Wax”, editado em 2006. Conhecida como Gigi, Ejigayehu Shibawba é uma das mais célebres cantoras etíopes, apresentando-se quer a solo, quer com as formações Tabla Beat Science e Abyssinia Infinite. Acompanhada por instrumentos acústicos como a harpa kirar ou a flauta washint, ela combina melodias tradicionais do seu país com uma grande variedade de estilos como o jazz, a soul, a dub e o afrofunk. A viver actualmente nos Estados Unidos da América, Gigi é casada com o baixista e produtor Bill Laswell, que há seis anos produziu o seu álbum de estreia, disco em que foram introduzidos instrumentos electrónicos e que entre os convidados incluía o célebre David Gilmore. Neste seu último trabalho, Gigi cruza harmonias africanas com elementos jamaicanos e indianos e batidas do Ocidente. Um arranjo complexo e moderno de canções de dança e melodias, com muito ritmo e percussão à mistura. São sons menos tradicionais que seguem o caminho de outros fusionistas etíopes. Um álbum que contou com a participação de músicos como o virtuoso do sarangi Ustad Sultan Khan, o mestre da tabla Karsh Kale, o teclista Bernie Worrell, Nils Petter Molvaer, ou dos músicos africanos Abesgasu Shiota, Hoges Habte Aiyb Dieng e Assaye Zegeye.
"Hatul Vehatula", Boom Pam (Israel) - world fusion, surf rock
Para já, acompanha-nos um dos melhores grupos israelitas e uma banda de culto naquele país. Os Boom Pam, que começaram por tocar em clubes e casamentos, trazem-nos o tema “Hatul Vehatula”, extraído do álbum do mesmo nome da banda, lançado no ano passado. Formados em 2003, os Boom Pam foram buscar a identidade ao cover da canção grega que tocaram com a estrela de rock Berry Sakharof, um êxito que ocupou as tabelas israelitas em 2004, à semelhança do que acontecera em 1969 com o cantor grego Aris San, emigrado em Tel Aviv. Os guitarristas Uzi Feinerman e Uri Brauner Kinrot começaram por experimentar sons orientais, até que se lhes juntaram a tuba de Yuval “Tubi” Zolotov e as percussões de Dudu Kohav. Depois do sucesso alcançado no Médio Oriente, eles chegaram ao público europeu, graças sobretudo ao DJ Shantel, que co-produziu o seu primeiro lançamento internacional e os descobriu numa das suas visitas a Tel Aviv, convidando-os então a participarem em vários espectáculos no seu Bucovina Club em Berlim, Frankfurt, Colónia e Zurique. Onde quer que actuassem, os Boom Pam deixavam o público em brasa com a sua mistura enérgica de rock do Médio Oriente com uma amostra de Balcãs, alguma irreverência e muito groove. Fugindo ao cliché do klezmer, geralmente associado à música judaica, eles criam um cocktail dos diferentes estilos que habitualmente se cruzam em Tel Aviv. Uma fusão única de estilos mediterrânicos, balcânicos e gregos, combinados com melodias judaicas, surf rock e música circense.
"Naar Oostland", Jams (Alemanha) - german folk
Os JAMS trazem-nos o tema “Naar Oostland”, retirado do álbum “Fisch” (Peixe), editado em 1997. Disco onde o grupo deixa para trás os temas instrumentais e a céilidh (dança tradicional gaélica), e descobre as suas raízes, apresentando várias canções em plattdeutsch (dialecto falado nas planícies setentrionais daquele país, mas que a maioria dos alemães simplesmente não compreende). São arranjos engenhosos e uma instrumentação especial, onde há lugar para a melódica (aerofone de palhetas, semelhante ao acordeão e à harmónica de boca), o bandolim, o saxofone, o clarinete, o contrabaixo e os tambores. Por vezes divertidos, mas sempre próximos das tradições musicais alemãs, os JAMS fundem tradições klezmer, balcânicas, alemãs e da Europa de Leste. Formados nos anos 80 na parte leste de Berlim, os JAMS marcaram o florescimento da folk alemã numa altura em que as bandas pareciam surgir como cogumelos. Num festival, o quarteto apresentou-se então com os primeiros nomes dos seus elementos: Jo-Andy-Micha-Session. Isto porque alguém juntou os nomes dos três no cartaz de apresentação do grupo. A organização é que não achou grande piada à longa palavra, que acabou por ser abreviada para JAMS (o que em plattdeutsch significa “sessão”). Apesar de a maior parte dos elementos originais já se terem afastado, manteve-se o nome da banda, hoje uma das mais conhecidas da folk germânica.
"Fábula Bêbada", JP Simões (Portugal) - luso-samba
A fechar o programa, despedimo-nos com “Fábula Bêbada”, tema retirado do disco de estreia a solo de João Paulo Simões, editado no mês passado. Depois de projectos como os Pop Dell’Arte, Belle Chase Hotel, A Ópera do Falhado e Quinteto Tati, o compositor e intérprete conimbricense envereda agora por um trabalho eminentemente pessoal e conceptual. No álbum de nome “1970”, seu ano de nascimento, JP Simões estabelece uma viragem na carreira. Um recomeço artístico em tempos de crise, onde o cantautor tentou criar uma canção portuguesa que se encaixasse na vitalidade da música brasileira. O resultado é uma espécie de pátria ficcional, situada entre Lisboa e o Rio de Janeiro, território onde nasce este luso-samba. Um álbum catársico e recheado de inquietações, onde é retratada uma geração que desapareceu sem ter cumprido os seus ideiais. Nesta colecção de sentimentos, memórias e pessoas, destacam-se a luminosidade dos arranjos de Tom Jobim, a toada da guitarra de João Gilberto e a arquitectura da canção de Chico Buarque. Eis uma realidade musical brasileira, sonhada em português…
Jorge Costa
"Carolina (remix)", Taraf de Haïdouks (Roménia) e DJ Shantel (Alemanha) - gypsy brass band, gypsy oriental music

"Lau Anaiak", Alboka (Espanha) - basque folk

"Ritus Selenita", Joglars e Senglars (Espanha) - celtic folk

"Poulo", Amadou & Mariam (Mali) - afropop blues

"Ambasale", Gigi (Etiópia) - world fusion, afrofunk

"Hatul Vehatula", Boom Pam (Israel) - world fusion, surf rock

"Naar Oostland", Jams (Alemanha) - german folk

"Fábula Bêbada", JP Simões (Portugal) - luso-samba

Jorge Costa
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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
World Music Charts Europe - Fevereiro 2007
Eis o TOP 20 relativo ao mês de Fevereiro dos 214 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a nova liderança e as oito novas entradas no topo do painel: quatro em estreia absoluta no WMCE e quatro a subirem para os primeiros vinte lugares:
1º- MA YELA, Akli D (Argélia) - Because
mês passado: 7ºlugar
2º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 1ºlugar
3º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
mês passado: 4ºlugar
4 º- SACRED STONE, Vajas (Noruega) - Vaj
mês passado: 64ºlugar
5º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 5ºlugar
6º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 2ºlugar
7º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
mês passado: 8ºlugar
8º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 3ºlugar
9º- URBAN AFRICA CLUB, vários - Outhere
mês passado: 21ºlugar
10º- PIRATA, Maria Bethânia (Brasil) - Discmedi
estreia na tabela
11º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 13ºlugar
12º- NA AFRIKI, Dobet Gnahoré (Costa do Marfim) - Contre Jour
estreia na tabela
13º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 6ºlugar
14º- INTRODUCING, Bela Lakatos & The Gypsy Youth Project (Hungria) - World Music Network
mês passado: 11ºlugar
15º- AKROBAKKUS, Afenginn (Dinamarca) - Tutl
estreia na tabela
16º- WEST EASTERN IMPRESSIONS, Zilverzurf (Suécia) - Lola's World
mês passado: 64ºlugar
17º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
mês passado: 10ºlugar
18º- SHA, Schildpatt vs Peeni Waali (Suiça) - Mensch Records
estreia na tabela
19º- KECE KURDAN, Aynur (Turquia) - Kalan
mês passado: 16ºlugar
20º- WOMEN WITH A VOICE, vários (África do Sul) - Skip Records
mês passado: 167ºlugar
1º- MA YELA, Akli D (Argélia) - Because
mês passado: 7ºlugar
2º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 1ºlugar
3º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
mês passado: 4ºlugar
4 º- SACRED STONE, Vajas (Noruega) - Vaj
mês passado: 64ºlugar
5º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 5ºlugar
6º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 2ºlugar
7º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
mês passado: 8ºlugar
8º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 3ºlugar
9º- URBAN AFRICA CLUB, vários - Outhere
mês passado: 21ºlugar
10º- PIRATA, Maria Bethânia (Brasil) - Discmedi
estreia na tabela
11º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 13ºlugar
12º- NA AFRIKI, Dobet Gnahoré (Costa do Marfim) - Contre Jour
estreia na tabela
13º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 6ºlugar
14º- INTRODUCING, Bela Lakatos & The Gypsy Youth Project (Hungria) - World Music Network
mês passado: 11ºlugar
15º- AKROBAKKUS, Afenginn (Dinamarca) - Tutl
estreia na tabela
16º- WEST EASTERN IMPRESSIONS, Zilverzurf (Suécia) - Lola's World
mês passado: 64ºlugar
17º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
mês passado: 10ºlugar
18º- SHA, Schildpatt vs Peeni Waali (Suiça) - Mensch Records
estreia na tabela
19º- KECE KURDAN, Aynur (Turquia) - Kalan
mês passado: 16ºlugar
20º- WOMEN WITH A VOICE, vários (África do Sul) - Skip Records
mês passado: 167ºlugar
sábado, 20 de janeiro de 2007
Emissão #35 - 20 Janeiro 2007
A 35ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 20 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 22 de Janeiro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (10 e 14 de Fevereiro) já nos novos horários (sábados, entre as 17 e as 18 horas, e quartas-feiras, entre as 21 e as 22 horas).
"Westindie", Schäl Sick Brass Band (Alemanha) - brass band, jazz, folk
Os Schäl Sick Brass Band a abrirem a emissão com o tema "Westindie", um hipnótico instrumental indiano extraído do álbum “Tschupun”, editado em 1999. O grupo surgiu em Colónia, capital cultural da província da Renânia e fortaleza mediterrânica da Alemanha. Um dos muitos emigrantes e visitantes de todo o mundo que a encheram de sons coloridos foi Raimund Kroboth, que em 1977 se instalou na margem direita do Reno. No dialecto local, aquela parte da cidade é conhecida precisamente por "Schäl Sick" (lado errado). Isto porque está do lado contrário à catedral e ao centro de Colónia, e porque é um enclave protestante na católica Renânia. Partindo de uma secção de ritmo que tem por base a tuba, a cítara popular e as percussões, os Schäl Sick Brass Band utilizam o som das fanfarras da região alemã da Bavaria e da Boémia checa para explorarem com inovação e versatilidade a música de outras culturas. Eles combinam elementos de jazz com o rock, o funk, o hip-hop o rap ou a folk. Um universo sonoro influenciado pela Europa central e de Leste e pelo norte de África, onde convivem ritmos cubanos, gregos, latinos, africanos e orientais, e instrumentos de todo o mundo - tavil, kanjira, dhol, dolki, omele, sekere, gangan, thereminvox, entre muitos outros. Um ambiente festivo em que se celebra a música de todo o planeta e onde o lema é "pensar global, soprar local"...
"Teu Nome, Amarante", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk
A jornada musical prossegue com os embaixadores da folk celta contemporânea. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trazem-nos o tema “Teu Nome, Amarante”, extraído do álbum “Saudade”, editado no ano passado. Amarante é o nome de várias aldeias galegas, muitas delas abandonadas por causa do envelhecimento e da emigração. Uma música onde este nome representa também o idioma galego, uma das ligações mais importantes da Galiza a Portugal e ao Brasil. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo aposta agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de dois anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.
"Terra de Ninguém", Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo continuam com os Gaiteiros de Lisboa, que nos trazem o tema “Terra de Ninguém”, retirado do álbum “Macaréu”, compilação editada em 2000. Uma música escrita e cantada por Carlos Guerreiro, a quem se junta Pacman, dos Da Weasel, fundindo o hip-hop com a folk. Neste álbum, o grupo traz-nos ladaínhas populares ou os poemas de Fernando Pessoa, Alexandre O'Neill e Amélia Muge. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. Os músicos deste grupo, que utilizam ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, têm colaborado em projectos de rock, jazz ou música clássica com José Afonso, Sérgio Godinho, Vitorino, Amélia Muge, Carlos Barretto, Rui Veloso, Sétima Legião ou Adufe. O seu experimentalismo constante leva-os a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Criando um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares, os Gaiteiros de Lisboa ressuscitaram o gosto por uma certa música portuguesa de raiz tradicional, arrastando para os seus concertos verdadeiras multidões de pessoas a quem estas músicas pouco ou nada diziam.
"Justice", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
De regresso, mais uma vez, ao programa, Tiken Jah Fakoly apresenta-nos agora o tema "Justice", extraído do álbum “Françafrique”, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy (cuja voz acompanha Fakoly neste tema) e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.
"Riongere", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A viagem prossegue com Oliver 'Tuku' Mtukudzi e o tema "Riongere", retirado do álbum "Tuku Music", lançado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.
"Jhullay Lal", Sajjad Ali (Paquistão) - sufi music, ethno pop
Seguimos agora até ao Paquistão, país cuja herança musical é partilhada com o norte da Índia. Sajjad Ali traz-nos então o tema “Jhullay Lal”, retirado do álbum “Aik Aur Love Story”, lançado em 1998. Um hino sufi de exaltação, a que foram adicionadas as batidas pop e os ritmos de dança. Uma música incluída no álbum produzido pelo cantor e actor, trabalho que foi também a banda sonora do filme do mesmo nome, o primeiro realizado por Sajjad Ali. Pioneiro da música pop no Paquistão, Sajjad Ali alcançou a fama no final da década de 80, destacando-se como um dos poucos cantores do género com um passado ligado ao canto clássico, uma experiência que dá às suas canções populares uma inconfundível profundidade e textura. Na sua aprendizagem, Sajjad tocou músicas de lendários artistas clássicos como Ustad Bade Ghulam Ali Khan e Ustaad Barkat Husain, familiarizando-se com instrumentos e estilos musicais como a raga, o que lhe permitiu construir uma carreira sólida e ser hoje um cantor aclamado. Para além do cinema, este tem vindo a participar em séries dramáticas. Uma ligação à indústria que já vem da família, isto porque o seu pai era um reconhecido actor e os irmãos Lucky Ali e Waqar Ali também têm carreiras musicais. Numa altura em que os ritmos da bhangra estavam na ordem do dia na música pop paquistanesa, Sajjad Ali teve a ousadia de se aventurar na criação de baladas e temas menos ritmados. Hoje retorna mais ao ambiente clássico, fazendo-se no entanto acompanhar de amostras de jazz e de batidas sufi.
"Khalouni", Cheb Mami (Argélia) - pop-raï, hip-hop, rock, funk
Cheb Mami traz-nos uma versão do tema “Khalouni” (Deixa-me), retirada do álbum “Dellali” (A Amada), o qual foi editado em 2001. Trabalho onde este mistura uma série de linguagens e influências sonoras, que vão da música africana ao house, flamenco e reggae, e em que são convidados, entre outros, Charles Aznavour, Ziggy (filho de Bob Marley), o famoso guitarrista Chet Atkins ou o London Community Gospel Choir. Um álbum sofisticado e expansivo, onde os registos vocais de Cheb Mami e dos restantes músicos são acompanhados por instrumentos como o acordeão, as guitarras acústica e eléctrica, o baixo, o violino, o violoncelo, o alaúde ou a debourka. Paralelamente às origens de géneros ocidentais como o rock & roll, o punk e o hip-hop, o raï surgiu na Argélia como uma forma de arte recreativa e minoritária. No entanto, depressa ganhou contornos políticos, destacando-se cada vez mais não só pela popularidade, ma sobretudo pela sua controvérsia. Um dos renovadores deste estilo musical, marcado pela atitude provocativa e pela expressão rebeliosa da juventude argelina, foi precisamente Cheb Mami. Refugiado em Paris durante duas décadas, foi aí que este foi construindo a sua carreira, misturando o raï com a dança, o hip-hop, o funk e o rock. Conhecido em grande parte devido à colaboração de Sting no seu tema “Desert Rose”, que se tornou um sucesso em todo o mundo, Cheb Mami pretende então universalizar este género tradicional, abrindo-o às influências ocidentais, sem no entanto perder a suas raízes argelinas.
"Saudade", Elisete (Brasil) - world electro, bossa nova, samba, forró, baião
A fechar o programa, despedimo-nos com Elisete e o tema “Saudade”, remisturado por Alon Ohana e extraído do álbum “Elisete – Remixes”, editado no passado mês de Dezembro. A compositora, que diz cantar para alegrar as pessoas do mundo, nasceu no Brasil mas desde 1991 que vive em Israel. Enquanto que no primeiro disco enveredava pela bossa nova, samba, forró, baião e por outros ritmos ecléticos, no seu segundo trabalho as suas raízes brasileiras abriram-se finalmente ao mundo. Dois temas seus foram mesmo incluídos na banda sonora do filme israelita “Há Bua” (A Bolha). Agora é a vez das canções em português, acompanhadas por sons electrónicos. Neste seu terceiro álbum, ela apresenta-nos uma colectânea das canções presentes em “Luar e Café” e “Saudade”, desta feita remisturadas por DJ’s e produtores de música electrónica israelitas. Apesar da maioria das suas letras serem em hebraico, o ritmo brasileiro está sempre presente, razão pela qual a música de Elisete tem uma grande aceitação. Nas canções, grande parte da sua autoria, Elisete tenta conciliar o espírito alegre e descontraído do Brasil com a difícil e dura realidade de Israel.
Jorge Costa
"Westindie", Schäl Sick Brass Band (Alemanha) - brass band, jazz, folk

"Teu Nome, Amarante", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk

"Terra de Ninguém", Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk

"Justice", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae

"Riongere", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music

"Jhullay Lal", Sajjad Ali (Paquistão) - sufi music, ethno pop

"Khalouni", Cheb Mami (Argélia) - pop-raï, hip-hop, rock, funk

"Saudade", Elisete (Brasil) - world electro, bossa nova, samba, forró, baião

Jorge Costa
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
Multipistas altera horário de emissão
Devido a alterações na grelha de programação da Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), até agora a única estação responsável pela transmissão hertziana do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, será necessário proceder a algumas modificações nos horários de emissão do formato, as quais entram em vigor a partir de Fevereiro.
Esta é também uma forma de assegurar a difusão integral das repetições do programa, que por vezes têm surgido com cortes graças aos incontornáveis compromissos informativos ou publicitários daquela rádio.
Enquanto que o horário normal do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO se mantém nos sábados, entre as 17 e as 18 horas, a repetição do programa passa de segunda para quarta-feira, entre as 21 e as 22 horas. Quanto às retransmissões, cada edição do programa continuará a ser reposta três semanas após a primeira difusão, desta feita já no novo horário.
Jorge Costa
Esta é também uma forma de assegurar a difusão integral das repetições do programa, que por vezes têm surgido com cortes graças aos incontornáveis compromissos informativos ou publicitários daquela rádio.
Enquanto que o horário normal do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO se mantém nos sábados, entre as 17 e as 18 horas, a repetição do programa passa de segunda para quarta-feira, entre as 21 e as 22 horas. Quanto às retransmissões, cada edição do programa continuará a ser reposta três semanas após a primeira difusão, desta feita já no novo horário.
Jorge Costa
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
A minha amiga rádio...
A marcar a estreia da cooperação com os programas de músicas do mundo existentes nas restantes rádios locais e regionais portuguesas, no próximo dia 18 de Janeiro o MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO irá marcar presença, a convite do realizador, na segunda hora do Canto Nómada, o programa de música tradicional portuguesa e do mundo que André Moutinho apresenta às quintas-feiras, entre as 22 horas e a meia-noite, na Torres Novas FM (100.8 FM). Em alternativa, a emissão poderá ser escutada a partir de sexta-feira no podcast oficial.
Eis o texto da crónica:
"Esta semana, no âmbito de um trabalho de introspecção pessoal, uma estudante minha conhecida procurava descobrir alguns objectos que tivessem influenciado a sua vida. Na lista figuravam nomes como a banda desenhada ou o caderno de apontamentos, mas para ajudar a jovem a encontrar outras referências, decidi então juntar-me à reflexão.
Em meia dúzia de segundos dei conta de que uma das coisas que me acompanha desde sempre é a minha amiga rádio. De acesso universal, funcionamento simples e linguagem clara, a rádio é tão versátil e dinâmica como um livro que se abre. Pegando algures no fino espectro electromagnético, e num pequeno virar de frequência, com ela conseguimos atravessar meio mundo, criando cenários tridimensionais imaginários que, apesar de efémeros, não deixam de aspirar à ordem do onírico e do intemporal. Uma obra esboçada pela pena leve da estática, onde cada um pode escrever a sua história recorrendo sobretudo ao vocabulário da acústica.
Esta minha paixão platónica foi materializada no rádio, aliás, num dos muitos rádios que nas duas últimas décadas me foram passando pelas mãos. A pilhas ou eléctricos, com ou sem onda curta, saída estereofónica ou entrada para microfone, a interminável linhagem de receptores foi quase toda ela sacrificada em nome da oitava arte. O motivo era bom – procurar a alma deste dispositivo capaz de transformar electricidade em sons passíveis de significância –, mas o resultado foi apenas um retorcido emaranhado de circuitos integrados, teclas órfãs e fios descarnados, já sem vida.
Na minha infância, o iPod era uma caixa de sapatos onde guardava as cassetes quando ia de férias para o campo, algumas delas meros registos de conversas disparatadas com os primos, outras compilatórios dos sucessos que iam passando no éter. À noite, quando os sons ganhavam autonomia perante a natureza e o pequeno rádio se escondia por debaixo do lençol, deixando acesso unicamente um led vermelho, era a vez dos novos acordes e cacofonias sonoras em modulação de frequência, e das vozes distantes do entendimento em amplitudes imaginárias, tantas quanto os rostos encobertos por elas.
Terminado o breve exercício de introspecção, entre todos os transistorizados que conheço escolhi o leitor de cassetes, hoje desmaterializado no vulgar mas muito prático reprodutor de MP3. A magia que se reproduzia diariamente à minha frente saía reforçada por aquele ronronar de fita e pelo clique mecânico que se ouvia no final da cassete, quando as cabeças de leitura e gravação subiam.
Agora que o audiovisual se desmaterializou numa infinidade de suportes virtuais, discorrer acerca das virtudes da centenária rádio pode parecer puro saudosismo. Mas a saudade aqui é apenas a do futuro da radiodifusão, daquilo a que técnica e arte algum dia hão-de dar lugar. Para além da palavra, âncora da personalidade inclassificável da telefonia, a salvação da rádio será o cruzamento de conteúdos com outros meios e plataformas.
Se no que toca à técnica o podcast se destaca na lista das potencialidades emergentes, já em relação aos conteúdos 2006 foi mesmo o ano dos programas de música do mundo nas rádios locais e regionais portuguesas, género infelizmente ainda raro nas emissoras de cobertura nacional. Apesar da escassez de meios técnicos e de recursos com que todos os obreiros radiofónicos da world music se deparam, é preciso continuar a apostar em conteúdos que extravasem a leviandade musical vingente. Esta é uma oportunidade de ouro para que se criem novos formatos, novos músicos e novos públicos. Analógica por tradição ou revestida pelo cristalino som digital, a minha e a sua amiga rádio continuará então a ser uma construtora de consensos e ponte privilegiada de aproximação entre culturas e saberes."
Jorge Costa
Eis o texto da crónica:
"Esta semana, no âmbito de um trabalho de introspecção pessoal, uma estudante minha conhecida procurava descobrir alguns objectos que tivessem influenciado a sua vida. Na lista figuravam nomes como a banda desenhada ou o caderno de apontamentos, mas para ajudar a jovem a encontrar outras referências, decidi então juntar-me à reflexão.
Em meia dúzia de segundos dei conta de que uma das coisas que me acompanha desde sempre é a minha amiga rádio. De acesso universal, funcionamento simples e linguagem clara, a rádio é tão versátil e dinâmica como um livro que se abre. Pegando algures no fino espectro electromagnético, e num pequeno virar de frequência, com ela conseguimos atravessar meio mundo, criando cenários tridimensionais imaginários que, apesar de efémeros, não deixam de aspirar à ordem do onírico e do intemporal. Uma obra esboçada pela pena leve da estática, onde cada um pode escrever a sua história recorrendo sobretudo ao vocabulário da acústica.
Esta minha paixão platónica foi materializada no rádio, aliás, num dos muitos rádios que nas duas últimas décadas me foram passando pelas mãos. A pilhas ou eléctricos, com ou sem onda curta, saída estereofónica ou entrada para microfone, a interminável linhagem de receptores foi quase toda ela sacrificada em nome da oitava arte. O motivo era bom – procurar a alma deste dispositivo capaz de transformar electricidade em sons passíveis de significância –, mas o resultado foi apenas um retorcido emaranhado de circuitos integrados, teclas órfãs e fios descarnados, já sem vida.
Na minha infância, o iPod era uma caixa de sapatos onde guardava as cassetes quando ia de férias para o campo, algumas delas meros registos de conversas disparatadas com os primos, outras compilatórios dos sucessos que iam passando no éter. À noite, quando os sons ganhavam autonomia perante a natureza e o pequeno rádio se escondia por debaixo do lençol, deixando acesso unicamente um led vermelho, era a vez dos novos acordes e cacofonias sonoras em modulação de frequência, e das vozes distantes do entendimento em amplitudes imaginárias, tantas quanto os rostos encobertos por elas.
Terminado o breve exercício de introspecção, entre todos os transistorizados que conheço escolhi o leitor de cassetes, hoje desmaterializado no vulgar mas muito prático reprodutor de MP3. A magia que se reproduzia diariamente à minha frente saía reforçada por aquele ronronar de fita e pelo clique mecânico que se ouvia no final da cassete, quando as cabeças de leitura e gravação subiam.
Agora que o audiovisual se desmaterializou numa infinidade de suportes virtuais, discorrer acerca das virtudes da centenária rádio pode parecer puro saudosismo. Mas a saudade aqui é apenas a do futuro da radiodifusão, daquilo a que técnica e arte algum dia hão-de dar lugar. Para além da palavra, âncora da personalidade inclassificável da telefonia, a salvação da rádio será o cruzamento de conteúdos com outros meios e plataformas.
Se no que toca à técnica o podcast se destaca na lista das potencialidades emergentes, já em relação aos conteúdos 2006 foi mesmo o ano dos programas de música do mundo nas rádios locais e regionais portuguesas, género infelizmente ainda raro nas emissoras de cobertura nacional. Apesar da escassez de meios técnicos e de recursos com que todos os obreiros radiofónicos da world music se deparam, é preciso continuar a apostar em conteúdos que extravasem a leviandade musical vingente. Esta é uma oportunidade de ouro para que se criem novos formatos, novos músicos e novos públicos. Analógica por tradição ou revestida pelo cristalino som digital, a minha e a sua amiga rádio continuará então a ser uma construtora de consensos e ponte privilegiada de aproximação entre culturas e saberes."
Jorge Costa
sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
Emissão #34 - 6 Janeiro 2007
A 34ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 6 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 8 de Janeiro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (27 e 29 de Janeiro) nos horários atrás indicados.
"Natural Fractals", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
Os sevilhanos Rarefolk a inaugurarem a emissão com o tema “Natural Fractals”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2006. Quarto e último trabalho dos pioneiros do freestyle folk, uma mistura criativa de sons e ritmos folclóricos de todo o mundo com o universo do rock, do funk e da electrónica. O resultado é um raro estilo folk, carregado de energia, em que se fundem influências da música africana, celta, oriental e do próprio jazz. Neste disco, os Rarefolk regressam à sua formação original – Ruben Diez, "Mangu" Díaz, Marcos Munné, Pedro Silva, Fernando Reina e Oscar "Mufas" Valero –, contando com a participação especial do violinista Elo Sánchez (dos andaluzes Sila Na Gig) e do saxofonista Nacho Gil (Caponata Argamacho Trio). Desta feita, eles apresentam-nos uma mistura de instrumentos acústicos com sequências de dança, enveredando por géneros como a breakbeat ou o jungle. Bem para trás fica 1992, ano em que os Rarefolk se deram a conhecer na exposição mundial de Sevilha como Os Carallos e começaram a ter uma formação estável.
"Ataun", Kepa Junkera (Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com Kepa Junkera que nos traz “Ataun”, tema retirado do seu último álbum “Hiri” (cidade), editado no ano passado. No seu disco mais intimista e elaborado, Kepa Junkera leva-nos numa viagem por algumas das cidades e lugares de todo o mundo por onde passou. O exímio executante da trikitixa (fole do inferno), acordeão diatónico basco que em Portugal é conhecido por concertina, dá então destaque à txalaparta (instrumento de percussão, tocado com peças de madeira), à alboka (aerofone tradicional basco, constituído por dois chifres de vaca) e à sanfona. Kepa Junkera tornou-se o mais internacional dos músicos bascos ao fundir a folk da sua terra e a música triki com os ritmos do mundo. Uma palete sonora que começou com uma abertura ao jazz, à música clássica e à folk-rock, e que mais tarde anexou os ritmos do Quebeque, do Mediterrâneo, das Canárias, da Europa Central, de África e da Irlanda. Em “Hiri”, o músico de Bilbao conta com a participação de músicos como o albokari Ibon Koteron, Patrick Vaillant, Glen Velez, Marcus Suzano, Alain Bonnin, os Etxak, o Alos Quartet, Gilles Chabenat, Jean Wellers, Carlos Malta, Lori Cotler, Andy Narell, os catalães Tactequete, Xosé Manuel Budiño, os italianos Enzo Avitabile & I Bottari Di Pórtico e as vozes das Bulgarka, da cantora azeri Aygun, de José António Ramos, Benito Cabrera, Mercedes Peón e Eliseo Parra. Mas se tivermos em conta toda a discografia de Kepa Junkera, há que acrescentar ainda as colaborações de nomes como os Oskorri, o duo de txalapartaris Oreka TX, John Krikpatrick, Riccardo Tessi, Maria del Mar Bonet, Justin Vali, Hedningarna, La Bottine Souriante, Phil Cunningham, Liam O’Flynn, Béla Fleck, Andreas Wollenwaider, Pat Metheny e Caetano Veloso, bem como os portugueses Júlio Pereira e Dulce Pontes.
"Homer's Reel", Capercaillie (Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie de novo no programa, desta feita com o tema “Homer's Reel”, extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.
"Semena-Wrock", Gigi (Etiópia) - world fusion, afrofunk
Avançamos agora até à Etiópia com o tema “Semena-Wrock”, extraído do álbum “Gold and Wax”, editado em 2006. Conhecida como Gigi, Ejigayehu Shibawba é uma das mais célebres cantoras etíopes, apresentando-se quer a solo, quer com as formações Tabla Beat Science e Abyssinia Infinite. Acompanhada por instrumentos acústicos como a harpa kirar ou a flauta washint, ela combina melodias tradicionais do seu país com uma grande variedade de estilos como o jazz, a soul, a dub e o afrofunk. A viver actualmente nos Estados Unidos da América, Gigi é casada com o baixista e produtor Bill Laswell, que há seis anos produziu o seu álbum de estreia, disco em que foram introduzidos instrumentos electrónicos e que entre os convidados incluía o célebre David Gilmore. Neste seu último trabalho, Gigi cruza harmonias africanas com elementos jamaicanos e indianos e batidas do Ocidente. Um arranjo complexo e moderno de canções de dança e melodias, com muito ritmo e percussão à mistura. São sons menos tradicionais que seguem o caminho de outros fusionistas etíopes. Um álbum que contou com a participação de músicos como o virtuoso do sarangi Ustad Sultan Khan, o mestre da tabla Karsh Kale, o teclista Bernie Worrell, Nils Petter Molvaer, ou dos músicos africanos Abesgasu Shiota, Hoges Habte Aiyb Dieng e Assaye Zegeye.
"Le Pays Va Mal", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
Tiken Jah Fakoly trouxe-nos o tema "Le Pays Va Mal", extraído do álbum “Françafrique”, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.
"Shubra", Natacha Atlas (Bélgica) - ethno pop, electro, chaâbi
A jornada musical prossegue com Natacha Atlas, que nos apresenta o tema “Shubra”, retirado do álbum “Ayeshteni” (Tu Dás-me Vida), editado em 2001. Trabalho produzido e gravado na cidade do Cairo, no Egipto, e em que também participou o anglo-indiano Nitin Sawhney. A diva do ethno pop mistura as sonoridades tradicionais do Médio Oriente e do norte de África com a pop e a música electrónica. São sons onde não falta a influência do clássico chaâbi mas, como ela própria diz, menos entediante e mais mal comportado. Dona de uma voz poderosa e sedutora, Natacha Atlas cria um sinuoso e hipnótico canto, acompanhado por batidas trip hop e incursões pelo house ou o drum ‘n’ bass. A maior parte do seu repertório é interpretado em árabe, mas ela também canta em inglês, francês e castelhano. Filha de mãe inglesa e pai egípcio, Natacha Atlas nasceu na capital belga, mas as suas raízes estendem-se ainda à Palestina e a Marrocos. Até aos oito anos, ela viveu no bairro muçulmano de Bruxelas, altura em que a sua mãe, depois de se ter divorciado, decidiu mudar-se com os filhos para Northampton, na Inglaterra. A partir dos dezasseis anos, Natacha começa a envolver-se em pequenos projectos musicais e a viajar pela Turquia e Grécia, países onde trabalharia como dançarina do ventre. No início dos anos 90 integra como solista os Transglobal Underground, grupo inglês pioneiro em fundir elementos da música tradicional árabe, africana e hindu com elementos da música electrónica, ocupando o lugar de vocalista e dançarina. Da sua carreira faz também parte a passagem pelos Invaders of the Earth, grupo de Jah Wobble. Em 2001, Natacha Atlas foi nomeada pelas Nações Unidas Embaixadora para a Boa Vontade no âmbito da Conferência Internacional contra o Racismo. O público brasileiro e português certamente se lembrará da sua participação num capítulo da novela da Globo "O Clone", em que a cantora se interpreta a si mesma, cantando e dançando.
"Khalouni", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi
De regresso ao programa, Souad Massi apresenta-nos “Khalouni" (Deixa-me), uma mistura ibérica e norte-africana onde se evocam as raízes do raï e onde a jovem canta lado a lado com Rabah Kaifa. Considerada a Tracy Chapman do Magrebe, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. Esta jovem muçulmana, que se recusa a falar em nome do Islão e a ser uma activista da causa berbere, nunca tocou uma nota de raï. O seu gosto, mais orientado para o rock ocidental, o chaâbi e a música andaluza, fê-la criar um estilo único. A nostalgia e a dor do exílio são os temas centrais deste seu último trabalho, o álbum "Mesk Elil", editado em 2005. Desde 1999 que a jovem vive exilada em França. Numa ida à Tunísia para realizar mais um concerto reencontrou os aromas da madressilva, uma planta que lhe fez lembrar a sua infância na Argélia e que daria o nome ao seu terceiro álbum. Na adolescência, Souad Massi acompanhou com a sua guitarra o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente.
"Tuva Rock", Yat-Kha (Rússia) - tuva rock, punk-folk
A fechar o programa, despedimo-nos com os Yat-Kha, que nos trazem o tema "Amdy Bayp", extraído do álbum "Tuva Rock", editado em 2005. Esta banda originária da república russa de Tuva (região situada a sudoeste da Sibéria) foi fundada em Moscovo em 1991 pelo vocalista e guitarrista Albert Kuvezin e pelo compositor electrónico russo Ivan Sokolovsky. Farto de cantar temas xamânicos em grupos típicos como os Huun-Huur-Tu, Kuvezin decidiu então juntar a música moderna do Ocidente com a tradicional do seu país. O duo adoptou o nome de Yat-Kha (lê-se iát-rá), em alusão a uma espécie de pequena cítara da Ásia central semelhante à guzheng chinesa. Aos instrumentos tradicionais juntam-se então as guitarras eléctricas, os instrumentos electrónicos e outros inventados pelo grupo. Com a energia do rock, a banda rejuvenesceu uma das mais extraordinárias tradições vocais do mundo, criando distorções e dissonâncias que se aproximam do punk e do metal. As melodias e ritmos são acompanhados pelas três vocalizações básicas do canto polifónico da Tuva: o khoomei, o kargyraa e o sygyt. Técnica outrora muito utilizada pelos povos da Ásia central para imitar os sons da natureza, e em que uma única voz consegue emitir várias notas em simultâneo.
Jorge Costa
"Natural Fractals", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock

"Ataun", Kepa Junkera (Espanha) - basque folk

"Homer's Reel", Capercaillie (Reino Unido) - celtic folk

"Semena-Wrock", Gigi (Etiópia) - world fusion, afrofunk

"Le Pays Va Mal", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae

"Shubra", Natacha Atlas (Bélgica) - ethno pop, electro, chaâbi

"Khalouni", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi

"Tuva Rock", Yat-Kha (Rússia) - tuva rock, punk-folk

Jorge Costa
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quinta-feira, 28 de dezembro de 2006
World Music Charts Europe - Janeiro 2007
Eis o TOP 20 relativo ao mês de Janeiro dos 184 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a inversão nos dois lugares cimeiros e as oito novas entradas no topo do painel: duas em estreia absoluta no WMCE e cinco a subirem para os primeiros vinte lugares:
1º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 2ºlugar
2º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 1ºlugar
3º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 5ºlugar
4º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
mês passado: 13ºlugar
5º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 4ºlugar
6º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 3ºlugar
7º- MA YELA, Akli D (Argélia) - Because
mês passado: 17ºlugar
8º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
mês passado: 15ºlugar
9º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica
mês passado: 27ºlugar
10º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
mês passado: 14ºlugar
11º- INTRODUCING, Bela Lakatos & The Gypsy Youth Project (Hungria) - World Music Network
mês passado: 32ºlugar
12º- WE ARE THE SHEPHERDS, OMFO (Ucrânia) - Essay Recordings
mês passado: 19ºlugar
13º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 6ºlugar
14º- DIALOGUE, Sondre Bratland & Javed Bashir (Noruega) - Kirkelig Kultur Verksted
mês passado: 16ºlugar
15º- ÄLVDALENS ELEKTRISKA, Lena Willemark (Suécia) - Amigo
mês passado: 39ºlugar
16º- KECE KURDAN, Aynur (Turquia) - Kalan
mês passado: 29ºlugar
17º- DZUMBUS, Slonovski Bal (Sérvia) - Bal Bazar
estreia na tabela
18º- EFFFECTO, Faltriqueira (Espanha) - Resistencia
mês passado: 48ºlugar
19º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 10ºlugar
20º- MARFUL, Marful (Espanha) - Galileo
estreia na tabela
1º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 2ºlugar
2º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 1ºlugar
3º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 5ºlugar
4º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
mês passado: 13ºlugar
5º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 4ºlugar
6º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 3ºlugar
7º- MA YELA, Akli D (Argélia) - Because
mês passado: 17ºlugar
8º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
mês passado: 15ºlugar
9º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica
mês passado: 27ºlugar
10º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
mês passado: 14ºlugar
11º- INTRODUCING, Bela Lakatos & The Gypsy Youth Project (Hungria) - World Music Network
mês passado: 32ºlugar
12º- WE ARE THE SHEPHERDS, OMFO (Ucrânia) - Essay Recordings
mês passado: 19ºlugar
13º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 6ºlugar
14º- DIALOGUE, Sondre Bratland & Javed Bashir (Noruega) - Kirkelig Kultur Verksted
mês passado: 16ºlugar
15º- ÄLVDALENS ELEKTRISKA, Lena Willemark (Suécia) - Amigo
mês passado: 39ºlugar
16º- KECE KURDAN, Aynur (Turquia) - Kalan
mês passado: 29ºlugar
17º- DZUMBUS, Slonovski Bal (Sérvia) - Bal Bazar
estreia na tabela
18º- EFFFECTO, Faltriqueira (Espanha) - Resistencia
mês passado: 48ºlugar
19º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 10ºlugar
20º- MARFUL, Marful (Espanha) - Galileo
estreia na tabela
quarta-feira, 20 de dezembro de 2006
Emissão #33 - 23 Dezembro 2006
A 33ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, um programa especial que conta com entrevistas exclusivas aos Comcordas e Mu, bandas que em Outubro estiveram no Festival Entrelaços, em Castelo Branco, é difundida no sábado, 23 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), e vai de novo para o ar na segunda-feira, 25 de Dezembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (13 e 15 de Janeiro) nos horários atrás indicados.
"Devoiche Belo, Tsurveno/Povdigni Si Milo Libe/Vasilke, Mlada Nevesto", Angelite (Bulgária) - bulgarian folk
As vozes búlgaras das Angelite estreiam esta emissão especial com três canções de amor – “Devoiche Belo, Tsurveno”, “Povdigni Si Milo Libe” e “Vasilke, Mlada Nevesto” –, um medley que faz parte do álbum “Balkan Passions”, editado em 2001. À semelhança dos restantes países dos Balcãs, a Bulgária é um território habitado por turcos, ciganos, macedónios, judeus, arménios e romenos, grupos étnicos que ao longo do tempo foram moldando a música desta região. Prova dessa convivência cultural é a lista de músicos que participam neste trabalho: Orchestre Pirin, da Bulgária; Okay Temiz e Sezen Aksu, da Turquia; Fanfare Ciocărlia, da Roménia; e Maria Farantouri, da Grécia. Fundadas em 1952, as Angelite são um grupo de canto vocal composto por duas dezenas de mulheres, e que combina elementos tradicionais da folk búlgara com intervalos microtonais e a justaposição de escalas. São melodias seculares que fazem alusão a elementos da vida diária, incorporando muitas das vezes participações instrumentais e arranjos de compositores clássicos contemporâneos. Dirigido pelo compositor búlgaro Georgy Petkov, o coro colaborou, entre outros, com o saxofonista Jan Gabarek e com o Moscow Arts Trio. O canto vocal é uma importante tradição búlgara, particularmente no Natal, em que se destacam as melodias sacras ortodoxas, outrora cantadas apenas pelos homens, ou os cânticos alusivos à quadra. Um estilo único, de grande riqueza melódica e rítmica, possível graças a um desenvolvido controlo da respiração, e que terá surgido no Médio Oriente na era pré-cristã.
"Rumba Para Susi", Susana Seivane (Espanha) - galician folk, celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Susana Seivane, que nos traz “Rumba Para Susi”, um tema tradicional que aqui se apresenta numa versão adaptada para gaita e pequena orquestra. Esta gaiteira é neta de Xosé Manuel Seivane, um dos mais conceituados artesãos galegos. Diz a tradição que a madeira de buxo ou buxeiro, utilizada na construção das gaitas de foles galegas, deve ficar mais de cem anos à espera de um artesão que lhe consiga descobrir a alma e transformá-la no instrumento musical. O buxo com que os Seivane fazem gaitas desde 1939 serviu precisamente de inspiração para o nome deste disco "Alma de Buxo". No seu segundo álbum, editado em 2002, a jovem segue a tradição musical da Galiza com várias xotas, muiñeiras, marchas e outras composições típicas daquela região, adicionando-lhes no entanto a bateria, o baixo e algumas amostras de música pop. E não é de espantar a sua mestria no manejo da gaita-de-foles, até porque começou a tocar este instrumento aos quatro anos. Neste álbum, Susana Seivane é acompanhada pela sua banda e por músicos como o ex-Milladoiro Rodrígo Romani, Kepa Junkera, Uxía Senlle, Guadi Galego dos Berrogüetto ou Uxía Pedreira dos Chouteira. Um trabalho em que esta presta homenagem aos gaiteiros da sua terra, como é o caso de Pepe Vaamonde e do próprio avô, que gravou duas composições do seu repertório. São duas gerações reunidas num só disco.
"Pandeirada do Che", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk
Regresso à Galiza com os embaixadores da folk celta contemporânea. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trouxeram-nos o tema “Pandeirada do Che”, extraído do álbum “Saudade”, editado este ano. Uma música recheada de alusões a Che Guevara, e onde Celso Emilio Ferreiro toca o pandeiro lado a lado com os viguenses Xulio Formoso e Farruco Sesto. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo aposta agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de dois anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Está assim consolidada a intenção do grupo em sublinhar a influência portuguesa para melhor definir a sua identidade galega, neste Portugal além-Minho. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.
"Vinavata", Mu (Portugal) - folk
Os portuenses Mu, uma jovem banda folk cuja alegria não deixa ninguém indiferente, com “Vinavata”, um dos temas gravados em Espanha no Festival Danzas Sin Fronteras, e que faz parte do seu primeiro álbum “Mundanças”, editado no ano passado. O título deste trabalho, em que também participam os Dazkarieh, mais não é do que um trocadilho de palavras que descreve na perfeição o mundo em mutação e recheado de dança em que os Mu estão mergulhados. Eles nasceram no Porto em 2003 e foram procurar inspiração nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo. Os ritmos e vozes tradicionais servem então de referência a este grupo que reinventa sobretudo danças balcânicas e eslavas, mas em cuja palete sonora não faltam também os sons ciganos, bretões, irlandeses ou mesmo africanos. Uma banda jovial, de estilo "roufenho, nómada e circense", conforme já lhes chamaram, que tem feito sucesso em festivais como o Andanças, em S. Pedro do Sul, o Intercéltico de Sendim, ou o Danzas sin Fronteras, em Espanha. Na sua quarta formação, os Mu integram os músicos Hugo Osga, Nuno Encarnação, Diana Azevedo, Sophie Kaliasz, Sérgio Calisto e Sara Barbosa.
"Diamantta Spaillit", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
Avançamos agora até ao norte da Europa com a norueguesa Mari Boine Persen, que nos traz o tema “Diamantta Spaillit” (Rena de Diamantes), extraído do álbum “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), lançado em Abril deste ano. Com mais de vinte anos de carreira, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, povo que habita a chamada Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evoca a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.
"Kokko", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A viagem prossegue com as Värttinä e o tema “Kokko”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 1996. De regresso ao programa, a mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa trouxe-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica, naquele que foi o primeiro trabalho onde o grupo tentou juntar a música tradicional com sons modernos. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.
"Ma Betty Boop À Moi", Opa Tsupa (França) - jazz manouche
A fechar o programa, despedimo-nos com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Ma Betty Boop À Moi", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Este quinteto acústico de jazz manouche, nascido em 2000, mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda – bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé – aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.
Jorge Costa
"Devoiche Belo, Tsurveno/Povdigni Si Milo Libe/Vasilke, Mlada Nevesto", Angelite (Bulgária) - bulgarian folk

"Rumba Para Susi", Susana Seivane (Espanha) - galician folk, celtic music

"Pandeirada do Che", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk

"Vinavata", Mu (Portugal) - folk

"Diamantta Spaillit", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues

"Kokko", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock

"Ma Betty Boop À Moi", Opa Tsupa (França) - jazz manouche

A fechar o programa, despedimo-nos com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Ma Betty Boop À Moi", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Este quinteto acústico de jazz manouche, nascido em 2000, mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda – bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé – aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.
Jorge Costa
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sexta-feira, 8 de dezembro de 2006
Emissão #32 - 9 Dezembro 2006
A 32ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 9 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 11 de Dezembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (30 de Dezembro e 1 de Janeiro) nos horários atrás indicados.
"Are You Gyspifiled? (megamix)", Olaf Hund (França) & Koçani Orkestar (Macedónia), Taraf de Haïdouks (Roménia) e Ursari de Clejani (Roménia) - gypsy brass band, gypsy oriental music
A abrir a emissão, o compositor francês e produtor de música electrónica Olaf Hund com a remistura “Are You Gypsified?”, extraída da colectânea “Electric Gypsyland”, editada no ano passado. Uma série de reinterpretações e de reinvenções poéticas de músicos europeus e americanos, em que o ponto de partida é a música cigana. Neste megamix, Olaf Hund mistura temas de três das mais conhecidas bandas dos Balcãs: os Koçani Orkestar, os Taraf de Haïdouks e os Ursari de Clejani. Originários da cidade macedónia do mesmo nome e liderados pelo trompetista Naat Veliov, os Koçani Orkestar combinam o som das fanfarras com ritmos de dança turcos e búlgaros e melodias ciganas dos Balcãs. O resultado é uma frenética festa sonora, localmente apelidada de Romska Orientalna Musika (música cigana oriental). Já os Taraf de Haïdouks ("banda de bandidos") são originários da cidade romena de Clejani, situada a sudoeste de Bucareste. Uma dezena de instrumentistas e cantores, com idades entre os 20 e os 78 anos, descobertos em 1990 por dois jovens músicos belgas que se apaixonaram pela sua sonoridade e decidiram levá-los até à Bélgica para os darem a conhecer ao mundo. A sua música, que varia entre as baladas e as danças, é uma mistura de estilos locais, representando na perfeição a riqueza das folk romena. Finalmente, e ainda na mesma cidade, encontramos os Ursari de Clejani, representantes do estilo vocal ursari e descendentes de uma família de domadores de ursos, e que no passado colaboraram num dos álbuns dos Taraf de Haïdouks.
"Urrutiko Polkak", Alboka (Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com os Alboka e o tema “Urrutiko Polkak”, extraído do álbum “Lau Anaiak” (Os Quatro Irmãos), lançado em 2004. Quarto trabalho do grupo que, para além das danças e melodias populares, retiradas dos cancioneiros bascos, integra temas instrumentais – então uma novidade na folk basca, mais habituada a trabalhos vocais – e novas canções, compostas por Allan Grifing e traduzidas para euskera pelo escritor basco Juan Garcia. O agora duo, formado pelo acordeonista Joxan Goikoetxea e pelo multi-instrumentista irlandês Alan Griffin (que há mais de vinte anos vive no País Basco), foi criado em 1994 juntamente com mais dois músicos daquela região autónoma espanhola: Txomin Artola e Josean Martín Zarko. Da sua história fazem também parte as vozes de Benito Lertxundi e Xabi San Sebastián, o violinista Juan Arriola e a cantora húngara Marta Sebestyén, que colaborou num dos álbuns do grupo. Um ensemble cujo objectivo é o de interpretar música tradicional exclusivamente de forma acústica, sua imagem de marca, e que foi buscar o nome à alboka, um aerofone pastoril basco, construído com dois chifres de vaca, e cuja sonoridade, parecida com a da gaita, se situa entre a sanfona e a bombarda francesa. Juntam-se-lhe o acordeão, o bouzuki, o bandolim, o ttun-ttun (tamboril basco, da família do saltério), a guitarra acústica, o violino, a harpa, a gaita, a flauta e as percussões. Uma ponte entre a música tradicional e a folk contemporânea, em que a energia basca se une à pureza irlandesa.
"Sort of Slides: Choice Language/Bring Out the Wilf/Come Ahead Charlie", Capercaillie (Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie regressam ao programa, desta feita com o medley “Sort of Slides: Choice Language/Bring Out the Wilf/Come Ahead Charlie”, extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.
"Yehlisan'Umoya Ma-Afrika", Busi Mhlongo (África do Sul) - afro pop, maskanda, mbaqanda
Avançamos agora até à África do Sul com Busi Mhlongo, que nos traz o tema "Yehlisan'Umoya Ma-Afrika", extraído do álbum "Urbanzulu", lançado em 2000. Disco em que colaboraram vários músicos, entre eles, dois da banda Phuzekhemisi, que com ela compuseram este álbum simultaneamente africano e ocidental. A diva da afropop foi a primeira mulher a internacionalizar a maskanda, género tradicional zulu que expressa a alegria e o lamento presentes na moderna vida da urbana África do Sul, e outrora característico dos trabalhadores e migrantes rurais. No entanto, Busi Mhlongo percorre outros estilos sul-africanos, fundindo-os com o jazz, o funk, o rock, o gospel, o rap e o reggae, e usando coros e instrumentos não tradicionais. Ao longo da sua carreira, actuou com alguns dos melhores nomes do jazz e estrelas da mbaqanga (género vocal, desenvolvido a partir de um estilo negro urbano, em que se destacam as vozes graves masculinas, e que se transformou no mqashiyo, um popular género de dança). Impedida de regressar à África do Sul, o que só aconteceria nos anos 90, Busi Mhlongo passou vários anos em Portugal, cantando temas populares e canções africanas em casinos. Durante o exílio, ela viveu ainda em Londres, no Canadá e em Amesterdão, cidade onde trabalhou com músicos africanos e desenvolveu o seu estilo único. Não é por acaso que, nas suas letras, Busi Mhlongo fala da necessária reconciliação entre sul-africanos com diferentes aspirações políticas.
"Les Temps On Changé", Amadou & Mariam (Mali) - afropop blues
A dupla Amadou & Mariam de volta ao programa, desta feita com o tema “Les Temps Ont Changé”, extraído do álbum “Wati” (Os Tempos, em bambara), editado em 2002. Uma música onde o casal critica o individualismo das novas gerações, utilizando a mais roqueira pop africana. Um afropop blues, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências tão inesperadas como o cavaquinho português ou o violino de Bengala. E como é habitual, não faltam as alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Neste trabalho, Amadou & Mariam prestam homenagem à música tradicional maliana, ainda que embrulhada em sons ocidentais, tendo por convidados os franceses Mathieu Chedid, Jean-Philippe Rykiel, Sergent Garcia, o marroquino Hamid el Kasri e os malianos Cheick Tidiane Seck, Moriba Koïta e Boubacar Dambalé. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na vida e na carreira. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma através da qual recordam não só as suas raízes mandingo, mas também as teias invisíveis que ligam o Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.
"Kadife", Richard Hagopian (EUA) & Omar Faruk Tekbilek (Turquia) - bellydance
A viagem prossegue com Richard Hagopian e Omar Faruk Tekbilek, que nos trazem "Kadife", tema extraído do álbum "Gypsy Fire", lançado em 1995. Uma recriação do ambiente underground multiétnico da Oitava Avenida em Nova Iorque na década de 1950, onde ciganos, arménios, turcos, judeus, gregos e árabes tocavam juntos. Álbum que reúne alguns dos melhores músicos do Médio Oriente, Europa de Leste e Estados Unidos da América, e em que participam ainda o lendário saxofonista turco Yuri Yunakov; Hasan Iskut, tocador de kanun, o "piano" da música turca; o violinista Harold Hagopian, filho de Richard Hagopian; o percussionista Arto Tunçboyaciyan; o guitarrista Ara Dinkjian e o baixista Chris Marashlian. Considerado um dos melhores tocadores de alaúde do planeta, Richard Hagopian é também um dos mais reconhecidos músicos e etnomusicologistas de ascendência arménia. Ele nasceu na Califórnia, nos Estados Unidos, e aprendeu a tocar violino e clarinete aos oito anos. Mais tarde, estudou com o famoso artista arménio Garbis Bakirgian. Hoje diz tocar mais de cinquenta instrumentos. Omar Faruk Tekbilek é também um virtuoso multinstrumentista. Ele iniciou a sua carreira musical aos oito anos com a kaval (uma pequena flauta diatónica), tendo aprendido a tocar instrumentos como a ney (flauta de bambú), a zurna (tipo de oboé), a baglama (alaúde de braço comprido) ou o oud (alaúde árabe). A sua música, enraizada na tradição turca, foi influenciada por múltiplos estilos e instrumentações árabes e orientais, emanando misticismo, romance e imaginação. Radicado em Nova Iorque, ele colabora sobretudo com o produtor e guitarrista norte-americano Brian Keane, a cujas bases electrónicas acrescenta os sons da flauta e da percussão.
"Sidi H’Bidi", Les Boukakes (França) - raï n'rock, afrobeat, reggae
Os Les Boukakes apresentam-se com o tema "Sidi H’Bidi", extraído do seu último álbum "Bledi", editado em 2004. Um trabalho onde o raï argelino e o gnawa marroquino surgem à mistura com o rock e a música electrónica, provando ser possível e agradável a combinação entre ocidente e oriente. Esta banda masculina de sete elementos, formada em 1998, é liderada pelo cantor argelino Bachir Mokhtare e inclui músicos tunisinos e franceses. Os Boukakes, que no passado mês de Novembro foram nomeados para os BBC Radio 3 Music Awards, foram buscar o seu nome à mistura fonética de dois típicos insultos racistas. Uma reacção - pouco chocante, no entender deles - às referências menos abonatórias que costumavam receber quando se estrearam nas ruas. Sem fazerem comentários políticos ostensivos nas suas canções, os Boukakes apelam deliberadamente à resistência ao status quo e à ignorância generalizada. Letras que são combinadas com melodias orientais e instrumentos diversos, como o karkabou/qarqabou (grandes castanholas metálicas marroquinas), a derbouka (instrumento de percussão magrebino), o bendir (outro instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), o duf (espécie de pandeireta), a tabla, o banjo, a guitarra ou o baixo. Anos depois, eles passaram das ruas para os bares e dos pequenos concertos para os festivais, encontrando finalmente o seu público. Desde então, têm partilhado o palco com músicos e bandas famosas como os Zebda, The Wailers, Manu Chao, Natacha Atlas, Taraf De Haïdouks, Cheikha Rimitti e Rachi Taha. Em 2004, o seu raï n'rock conquistou finalmente grande projecção, ao ganharem diversos prémios profissionais.
"Le Mec Aux Tics", Opa Tsupa (França) - jazz manouche
Os sons deste planeta musical continuam com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Le Mec Aux Tics", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Os Opa Tsupa são uma formação de jazz manouche, nascida em 2000. Este quinteto acústico mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda - bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé - aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.
"Rumelàj", Djamo (França) - gypsy music
Seguem-se os Djamo, que mais uma vez regressam ao programa, trazendo-nos agora o tema "Rumelàj", extraído do álbum "Chants Tziganes Métissés". Um ensemble françês que tem como repertório principal os cantos e a música cigana mestiça. Este jovem grupo originário da região de Poitou-Charentes, localizada no centro-oeste de França, leva-nos à descoberta das músicas ciganas e magrebinas. Neste álbum, eles são acompanhados por outros embaixadores dos sons mestiços, entre eles os Dikès e, precisamente, os Opa Tsupa.
"1000 Mirrors", Badi Assad (Brasil) - brazilian music
A fechar o programa, despedimo-nos com Badi Assad e o tema "1000 Mirrors", extraído do seu último trabalho "Wonderland", editado este ano. Este foi produzido por Jacques Morenlenbaum, e conta com a participação especial de Seu Jorge, entre outros músicos. Um álbum onde Badi Assad desmonta uma série de espelhos humanos, falando com a voz e com a percussão do próprio corpo sobre a violência doméstica, o alcoolismo ou a prostituição. Badi, cujo verdadeiro nome é Mariângela, foi baptizada em pequena pela mãe com parte do apelido libanês do pai, o qual em árabe significa Leão Milagroso. A cantora e compositora brasileira, nascida em São João da Boa Vista, no estado de São Paulo, começou como violinista clássica e aperfeiçoou a sua técnica instrumental, deixando para trás a formação académica e o universo da música erudita, que trocou pelo ritmo das canções da música popular. Tal como os irmãos violinistas Sérgio e Odair, que hoje formam o duo Assad, Badi começou a carreira como instrumentista, primeiro ao piano e depois à guitarra (conhecida no Brasil por violão). Em 1998, um problema na mão obrigou-a a ficar dois anos sem tocar, até que acabou pode descobrir outra forma sublime de expressão: o canto.
Jorge Costa
"Are You Gyspifiled? (megamix)", Olaf Hund (França) & Koçani Orkestar (Macedónia), Taraf de Haïdouks (Roménia) e Ursari de Clejani (Roménia) - gypsy brass band, gypsy oriental music

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"Le Mec Aux Tics", Opa Tsupa (França) - jazz manouche

Os sons deste planeta musical continuam com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Le Mec Aux Tics", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Os Opa Tsupa são uma formação de jazz manouche, nascida em 2000. Este quinteto acústico mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda - bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé - aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.
"Rumelàj", Djamo (França) - gypsy music

"1000 Mirrors", Badi Assad (Brasil) - brazilian music

Jorge Costa
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